Esta semana a Anatel anunciou a suspensão de vendas de chips de três operadoras de telefonia celular — Claro, Oi e Tim. O motivo é a má qualidade dos serviços prestados e o consequente volume de reclamações dos usuários. Essas operadoras serão obrigadas, para voltar a vender chips, a fazer investimentos que possam dar suporte ao volume de ligações e de mensagens enviadas. Até então, não faziam investimento na infraestrutura — se preocupavam apenas em vender e, claro, auferir lucros.
E não são lucros pequenos, podem ter certeza. A telefonia celular no Brasil é a mais cara do mundo — sem que haja uma explicação minimamente razoável para isso. Provavelmente é fruto do processo equivocado e incompetente de privatização do serviço. Não há como explicar de outra maneira. Segundo a União Internacional de Telecomunicações, a cesta básica do celular brasileiro (composta de 30 chamadas e 100 SMS por mês) custa, em média, algo em torno de 60 dólares. O mesmo que se paga na Suíça e no Japão, onde o poder aquisitivo é bem maior.
Não importa se o Brasil é um dos maiores mercados do mundo — o que seria, normalmente, um argumento mais do que razoável para que os preços fossem menores. Hoje, há praticamente 250 milhões de celulares ativos no Brasil. Ou seja, mais de um chip por habitante, principalmente levando-se em conta que crianças, idosos e população de baixa renda não têm, necessariamente, um celular.
Fazendo uma conta simplista, talvez até simplória: 250 milhões gastando 60 dólares por mês equivale a um faturamento mensal de 15 bilhões de dólares. Ou 30 bilhões de reais por mês. Ou, ainda, 360 bilhões de reais por ano. A telefonia celular drena esse volume de dinheiro da economia do país — a maior parte dessa grana enorme vai, é claro, para as operadoras. Esse dinheiro todo não é criado: ele é retirado da poupança do brasileiro para alimentar esse sistema — dinheiro está sendo desviado da compra de imóveis, por exemplo, ou de outros produtos e serviços.
Assim, estamos tratando de uma questão com repercussões muito profundas e, ainda que não entremos nesses meandros da macroeconomia, é no mínimo justo que tenhamos um serviço básico de excelência. Pelo volume, deveria ser um exemplo positivo para o resto do mundo — e não negativo. Por que afinal temos que pagar mais que todo mundo para ter algo pior que todo mundo?
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