Passional, obcecada, insegura, Penélope Cruz acaba de fazer seu segundo filme com Woody Allen. “Eu o deixei maluco”. Dá para entender, não é?
Penélope Cruz, a espanhola geniosa que atiçou meio mundo com suas participações emPiratas do Caribe e Vicky Cristina Barcelona, vem passando por uma “experiência revolucionária”. Foi assim que definiu a maternidade, terreno no qual ingressou há pouco mais de um ano, com Leonardo, fruto de seu relacionamento com o também ator Javier Bardem. “Ter um filho é absolutamente transformador”, diz. Uma das mudanças que Leo lhe proporcionou foi abrandar a obsessão por superar-se a cada momento, a cada novo trabalho, que ela sempre sentiu. Não que ninguém tivesse dúvidas sobre seu talento. “Estou tentando lutar contra a minha natureza. Sempre fui muito dura comigo mesma. Venho me esforçando apreciar o equilíbrio entre o trabalho e o tempo para mim e minha família. Hoje me sinto mais livre e em paz”, conta. “Mesmo com um bebê, nunca poderia colocar minha carreira completamente em espera. Não seria justo para mim, meu marido e meus filhos, se tivermos mais. Eu amo atuar, preciso disso para ser feliz.”
Penélope já participou de dois longas desde o nascimento de Leo: um na Bósnia (Venuto Al Mondo, dirigido pelo italiano Sergio Castellito) e outro em Roma (BopDecameron), com Woody Allen. O primeiro ainda não tem data de estreia, mas o segundo deve chegar ao Brasil no segundo semestre deste ano. Obstinada e passional, Penélope é um camaleão nas telas: muda de cor, de aparência e até mesmo sua química corporal parece transformar-se a cada papel. Em Vicky Cristina Barcelona, sua presença ardente apagou a estrela de Scarlett Johansson. A loira parecia incrivelmente vazia em comparação às torrentes furiosas de emoção que o fluxo de cada olhar despejava nas linhas ditas por Cruz. Ela não só explodiu Johansson para fora da tela e de nossa memória coletiva como a substituiu no lugar de nova musa de Woody Allen. Conseguiu, ainda, subverter o método de trabalho do diretor, que costuma filmar apenas dois ou três takes de cada cena.
“Toda vez que Woody gritava ‘Corta!’, pedia para gravar uma e outra vez”, lembra. “Eu o deixava maluco com isso.” No último dia de filmagem, o americano se vingou: antes que ela pudesse implorar por outro bis, ele se escafedeu do set. “Woody havia nos deixado. Estava se escondendo de mim (risos).”
Penélope sempre sente que pode fazer melhor. Assim que termina um take, aparece-lhe algo que talvez funcione mais. E se não conseguir realizá-lo, passa o dia a se torturar, lembrando-se de cada detalhe. Vive em constante estado de ebulição. “Não acho isso bom para minha saúde ou para o meu trabalho. Mas a cada filme me sinto insegura, tenho medo. Isso faz parte da minha maneira de atuar”, explica. “Sou invadida por torrentes de autodúvida. Vivo constantemente insatisfeita com o lugar onde estou. Claro que desejaria conseguir gerenciar tanto estresse. Por outro lado, penso que talvez isso me ajude a chegar aonde preciso”, diz. Cruz compara-se a um trapezista que precisa experimentar uma certa quantidade de tensão antes de efetuar o salto. “Penélope não permite que nada perturbe sua devoção à personagem. Submerge no trabalho até o limite que um diretor pode pedir”, diz Pedro Almodóvar, que a dirigiu em Carne Trêmula, Tudo Sobre Minha Mãe e Volver.
Para minimizar a tensão, ela várias vezes recorre à música e a utiliza para abrir o caminho da emoção. “Amo ópera e flamenco. Também música brasileira, especialmente Caetano Veloso. Muitas vezes vou às lágrimas”, diz. Sua iniciação musical deve-se à mãe, Encarna Sánchez, uma cabeleireira amante das artes. No apartamento em que a família vivia, num subúrbio operário de Madri, soava sempre música. “Aos domingos, limpávamos a casa ouvindo Bizet ou Prokofiev. Mesmo sem muito dinheiro (o pai era mecânico numa oficina local), fomos uma das primeiras famílias do bairro a ter um vídeo. Alugávamos muitos filmes italianos. Cresci vendo Fellini, Rosselini, De Sica. Anna Magnani era uma das minhas atrizes favoritas”, lembra.
Encarna também a incentivou a dançar e fez hora extra para pagar as aulas de balé da filha, que começou aos 4 anos. Penélope credita a disciplina que aplica a seu trabalho a esse intenso treinamento. Acha que, sem o balé, seria uma atriz pior. “Por momentos, minha dedicação era desmedida. Costumava arrancar minhas unhas do dedão do pé – arruinadas pela dança – e jogá-las fora. Já nem sentia nada. Eu amava dançar”, diz. Tanto que estava determinada a virar bailarina, até que, aos 15 anos, assistiu a Ata-me, do controverso Almodóvar. “Nunca me senti tão inspirada. Ali soube o que eu queria fazer”, diz. Na mesma semana, a recém ex-bailarina contatou uma agente, fez um teste – e foi mandada de volta para casa. “Você é muito jovem. Venha no próximo ano”, ouviu. “Mas eu voltei na semana seguinte. Fui mandada embora novamente. E voltei na semana seguinte. Isso é prova de minha teimosia crônica. Ser teimosa é algo que se torna meu melhor amigo e meu pior inimigo, às vezes”, admite.
Ela diz que vem aprendendo, nos últimos anos, a controlar o naufrágio emocional em que se perde ao preparar-se para um filme. “Alguns papéis são muito assustadores. Atuar é arriscado: você precisa estar disposto a lançar-se em situações difíceis emocionalmente.” Seu limite atingiu o ponto máximo há seis anos, quando sentiu que havia descuidado de sua vida e utilizado os filmes como uma forma de fuga inconsciente – e não apenas como meio de expressão artística. Decidiu então diminuir a obsessão workaholic que a levava a participar de quatro filmes em um ano, sem passar mais que uns meses em sua casa. Foi em meio a essa crise que Penélope reencontrou Javier Bardem – único rival de sua estatura tratando-se de celebridades na Espanha. Eles não trabalhavam juntos desde a estreia cinematográfica de Penélope em Jamón, Jamón, de Bigas Luna, aos 18 anos, com memoráveis cenas de nudez.
“Javier e eu permanecemos em contato, mas nunca nos encontrávamos. Apenas raramente, em cerimônias de premiação e eventos de cinema. Eu sempre o admirei como um grande ator”, admite, contida. A paixão de ambos no set de Vicky Cristina Barcelona foi guardada em segredo. Ele era exatamente o tipo de homem que esperava: alguém cuja própria paixão era páreo para a dela. “Ter essa intensidade, estar apaixonada por tudo às vezes pode ser cansativo”, admite Cruz. “Eu fui viciada em trabalhar a maior parte da minha vida e de repente descobri que precisava ter mais tempo para mim, meus amigos e minhas próprias necessidades.”
“Toda vez que Woody gritava ‘Corta!’, pedia para gravar uma e outra vez”, lembra. “Eu o deixava maluco com isso.” No último dia de filmagem, o americano se vingou: antes que ela pudesse implorar por outro bis, ele se escafedeu do set. “Woody havia nos deixado. Estava se escondendo de mim (risos).”
Penélope sempre sente que pode fazer melhor. Assim que termina um take, aparece-lhe algo que talvez funcione mais. E se não conseguir realizá-lo, passa o dia a se torturar, lembrando-se de cada detalhe. Vive em constante estado de ebulição. “Não acho isso bom para minha saúde ou para o meu trabalho. Mas a cada filme me sinto insegura, tenho medo. Isso faz parte da minha maneira de atuar”, explica. “Sou invadida por torrentes de autodúvida. Vivo constantemente insatisfeita com o lugar onde estou. Claro que desejaria conseguir gerenciar tanto estresse. Por outro lado, penso que talvez isso me ajude a chegar aonde preciso”, diz. Cruz compara-se a um trapezista que precisa experimentar uma certa quantidade de tensão antes de efetuar o salto. “Penélope não permite que nada perturbe sua devoção à personagem. Submerge no trabalho até o limite que um diretor pode pedir”, diz Pedro Almodóvar, que a dirigiu em Carne Trêmula, Tudo Sobre Minha Mãe e Volver.
Para minimizar a tensão, ela várias vezes recorre à música e a utiliza para abrir o caminho da emoção. “Amo ópera e flamenco. Também música brasileira, especialmente Caetano Veloso. Muitas vezes vou às lágrimas”, diz. Sua iniciação musical deve-se à mãe, Encarna Sánchez, uma cabeleireira amante das artes. No apartamento em que a família vivia, num subúrbio operário de Madri, soava sempre música. “Aos domingos, limpávamos a casa ouvindo Bizet ou Prokofiev. Mesmo sem muito dinheiro (o pai era mecânico numa oficina local), fomos uma das primeiras famílias do bairro a ter um vídeo. Alugávamos muitos filmes italianos. Cresci vendo Fellini, Rosselini, De Sica. Anna Magnani era uma das minhas atrizes favoritas”, lembra.
Encarna também a incentivou a dançar e fez hora extra para pagar as aulas de balé da filha, que começou aos 4 anos. Penélope credita a disciplina que aplica a seu trabalho a esse intenso treinamento. Acha que, sem o balé, seria uma atriz pior. “Por momentos, minha dedicação era desmedida. Costumava arrancar minhas unhas do dedão do pé – arruinadas pela dança – e jogá-las fora. Já nem sentia nada. Eu amava dançar”, diz. Tanto que estava determinada a virar bailarina, até que, aos 15 anos, assistiu a Ata-me, do controverso Almodóvar. “Nunca me senti tão inspirada. Ali soube o que eu queria fazer”, diz. Na mesma semana, a recém ex-bailarina contatou uma agente, fez um teste – e foi mandada de volta para casa. “Você é muito jovem. Venha no próximo ano”, ouviu. “Mas eu voltei na semana seguinte. Fui mandada embora novamente. E voltei na semana seguinte. Isso é prova de minha teimosia crônica. Ser teimosa é algo que se torna meu melhor amigo e meu pior inimigo, às vezes”, admite.
Ela diz que vem aprendendo, nos últimos anos, a controlar o naufrágio emocional em que se perde ao preparar-se para um filme. “Alguns papéis são muito assustadores. Atuar é arriscado: você precisa estar disposto a lançar-se em situações difíceis emocionalmente.” Seu limite atingiu o ponto máximo há seis anos, quando sentiu que havia descuidado de sua vida e utilizado os filmes como uma forma de fuga inconsciente – e não apenas como meio de expressão artística. Decidiu então diminuir a obsessão workaholic que a levava a participar de quatro filmes em um ano, sem passar mais que uns meses em sua casa. Foi em meio a essa crise que Penélope reencontrou Javier Bardem – único rival de sua estatura tratando-se de celebridades na Espanha. Eles não trabalhavam juntos desde a estreia cinematográfica de Penélope em Jamón, Jamón, de Bigas Luna, aos 18 anos, com memoráveis cenas de nudez.
“Javier e eu permanecemos em contato, mas nunca nos encontrávamos. Apenas raramente, em cerimônias de premiação e eventos de cinema. Eu sempre o admirei como um grande ator”, admite, contida. A paixão de ambos no set de Vicky Cristina Barcelona foi guardada em segredo. Ele era exatamente o tipo de homem que esperava: alguém cuja própria paixão era páreo para a dela. “Ter essa intensidade, estar apaixonada por tudo às vezes pode ser cansativo”, admite Cruz. “Eu fui viciada em trabalhar a maior parte da minha vida e de repente descobri que precisava ter mais tempo para mim, meus amigos e minhas próprias necessidades.”
Matéria publicada na Revista ALFA de abril de 2012.
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