3 de jan. de 2012

Amarillo Slim: O Grande Malandro


INTRODUÇÃO – PARTE 1

Se alguma coisa for alvo de controvérsia, eu aposto nela ou me calo. E como discutir não é lá coisa de cowboy, já fiz várias apostas nessa vida. Mas quer saber, parceiro, em minha humilde opinião, eu não sou um apostador qualquer. Nunca saio em busca de um trouxa. Eu procuro um vencedor e faço dele um trouxa…

Eu sabia que não convenceria nenhum amador a jogar pingue-pongue comigo por dinheiro, apenas Bobby Riggs, o campeão de Wimbledon de 1939 – eis um homem que estava interessado em fazer uma aposta. Droga, se um cara não achar que tem alguma vantagem, você não tem chance alguma de ele apostar com você.

Bobby não era apenas o melhor jogador de tênis do momento, como também uma personalidade, uma celebridade mundialmente conhecida. Ele era tão famoso que o Tio Sam pediu que ele fizesse exibições de tênis para as tropas durante a Segunda Guerra Mundial e usou isso para fazer alarde. Em Pearl Harbor, em 1944, um infeliz estranho, que não fazia idéia que Bobby era um campeão, desafiou-o para uma partida de tênis com apostas altas. Sem praticamente esforço algum, Bobby saiu com todo o dinheiro do sujeito, o seu carro e o seu bizarro bangalô em Honolulu. Dizem que Bobby se sentiu mal pelo coitado, abriu mão e devolveu tudo – exceto $500, que ele disse ser pela “lição”. Eu sei que esse é um preço muito alto por uma lição, mas acho que poderia ter sido muito pior para a vítima desavisada de Bobby.

Bobby também era conhecido por suas apostas no tênis. Para atiçar idiotas que queriam uma chance de jogar com ele, mas sabiam que jamais o derrotariam, ele inventava as maiores loucuras. Ele jogava com um poodle amarrado em cada perna, ou com uma capa de chuva e galochas enquanto segurava um guarda-chuva aberto com a sua mão esquerda. Acredite em mim, esse menino tinha imaginação, e ele não diminuiu o ritmo nem um pouco à medida que envelhecia.

Em maio de 1973, aos cinquenta e cinco anos de idade, Bobby enfrentou a jogadora número um do mundo, Margaret Court, em uma partida-desafio no San Diego Country Estates, chamada de “A Batalha dos Sexos”. De algum modo, aquele enérgico senhor executou truques suficientes para derrotá-la. Bem, Billie Jean King, a segunda melhor jogadora do mundo, que Bobby tinha chamado de “a verdadeira líder sexual do bando revolucionário”, não gostou dos comentários de Bobby sobre a superioridade do gênero masculino e o desafiou a jogar uma partida contra ela. Diante de mais de trinta mil espectadores no Astrodome, em Houston, em setembro de 1973, a mulher de vinte e nove anos derrotou o senhor de cinquenta e cinco em sets consecutivos. E isso promoveu manchetes ao redor do mundo.

Como se tratava de um evento no qual o resultado era duvidoso – pelo menos no Texas – você pode ter certeza de que eu estava lá, e é provável que eu tenha feito uma pequena aposta também. Eu tinha conhecido Bobby rapidamente no ano anterior em Las Vegas, na World Series of Poker e, quando conversei com ele depois da partida de tênis, Bobby me disse que eu seria sempre bem-vindo no Bel Air Country Club, na sua cidade natal, Los Angeles.

O poker era bom no sul da Califórnia naquela época – ainda é hoje – e na minha viagem seguinte até lá, eu fiz uma visita ao velho Bobby no seu elegante country clube. Não demorou muito para que ele tentasse me convencer a apostar e, como eu não era um jogador de tênis, ele tentou me persuadir a jogar pingue-pongue. Nós dois sabíamos que ele era um jogador muito melhor, mas depois daquele incidente em Pearl Harbor, Bobby tinha amadurecido e aprendido a não se entregar. Em outras palavras, ele não estava querendo ganhar quinhentos dólares por uma lição, ele estava querendo chutar o meu traseiro magro e interiorano.

Como era de se esperar entre dois apostadores, nós ficamos em um vai e vem tentando achar uma aposta justa, mas Bobby continuava se recusando a me dar uma oportunidade. Então finalmente eu disse que jogaria com ele com uma condição: que eu escolhesse as raquetes.

“Nós dois usaremos a mesma raquete?”

“Sim, senhor”.

“Então quando você chegar com duas raquetes iguais, eu posso escolher com qual eu quero jogar?”

“Sim, senhor, desde que eu traga as raquetes”.

Bobby achava que eu ia dar algum golpe juvenil – que seria uma questão de peso ou que uma das raquetes seria furada ou algo do tipo. Mas quando eu disse que ele podia escolher qualquer uma das duas raquetes que quisesse usar, ele imediatamente comprometeu o seu dinheiro.

Nós apostamos $10.000 e concordamos em jogar às 14h do dia seguinte. Antes de eu sair, apenas para evitar mal-entendidos, eu confirmei a aposta: nós iríamos jogar pingue-pongue de vinte e um pontos, com cada um usando raquetes de minha escolha.

Eu cheguei no dia seguinte ao Bel Air Country Club preparado para a disputa. Quando Bobby me pediu para ver as raquetes, eu enfiei a mão na minha mochila e entreguei a ele duas frigideiras, de mesmo peso e tamanho, e disse que ele poderia usar qualquer uma. Bobby era o atleta mais bem-coordenado que já viveu, mas sacudia aquela frigideira como cozinheiro ensandecido. Ele só começou a aprender a manejar a frigideira quando eu estava perto de derrotá-lo, mas foi tarde demais. Eu ganhei o jogo de 21 a 8, e poderia ter sido bem pior.

Mais uma vez eu tinha provado que você pode ganhar a vida derrotando um campeãoapenas usando a sua cabeça em vez do seu traseiro. A pessoa mais fácil de ser enganada no mundo é um enganador, e Bobby tinha mordido aquela isca feito um porco selvagem depois de uma enchente. Eu vinha praticando com aquela frigideira desde que o tinha encontrado em Houston, e depois que recolhi o dinheiro, apertei a mão de Bobby e nós rimos muito.

Naturalmente, a notícia se espalhou como uma queimada, sobre como o velho Slim derrotou Bobby Riggs, e sete ou oito meses depois do ocorrido, eu estava em Knoxville, Tennesse, em um clube da American Legion, para jogar poker. Havia alguns espertalhões por lá, incluindo um camarada de nome Lefty (Canhoto), que me disse: “Slim, aquilo que você fez foi uma coisa muito legal, jogar pingue-pongue com Riggs”.

Ele então falou muito sobre isso e finalmente Lefty me disse: “Eu tenho um colega que pode lhe derrotar no pingue-pongue”.

“Você não tem um colega que possa me derrotar se eu escolher as raquetes”, eu disse.

É claro que esse camarada sabia como eu havia derrotado Bobby. O mundo inteiro sabia como eu derrotara Bobby. E eu sabia que ele sabia, então eu não podia simplesmente marcar uma partida para ser jogada com frigideiras, podia?

Portanto eu disse a Lefty: “Bem, eu estou ocupado aqui jogando poker, e depois tenho que voltar a Amarillo”. Mas, no fundo, eu sabia que tinha que encontrar uma forma de ganhar dinheiro de Lefty. Eu parti para Amarillo no dia seguinte, querendo encontrar um meio de derrotar o colega de Lefty no pingue-pongue. Cerca de um mês depois, eu estava promovendo um evento de caridade em Amarillo com o meu velho amigo Wendell Cain, na emissora de televisão na qual ele trabalha, e nós começamos a jogar pingue-pongue entre as tomadas.

Como eu não bebo álcool, geralmente tomo café quando quero algo quente, e Coca-Cola quando quero algo gelado. Naquele dia eu estava bebendo Coca-Cola em uma garrafa pequena enquanto jogávamos e, assim que terminei, peguei a garrafa e bati na bola de pingue-pongue, que passou a rede completamente.

“Que legal, Slim!”, disse Wendell. “Faça isso de novo”.

Eu comecei a treinar, mas não conseguia. É que existe uma área de apenas cerca de 1/16 de uma polegada em uma garrafa que faz com que a bola ultrapasse a rede. Então eu pratiquei e pratiquei até conseguir acertar a bola todas as vezes, e foi aí que eu soube que uma garrafa de Coca iria me dar muito dinheiro.

Meu único problema era que eu não poderia simplesmente aparecer no Tennesse procurando Lefty – isso chamaria muito a atenção – então eu precisava de uma desculpa para voltar ao Tennesse. Eu esperei alguns meses até o próximo grande jogo por lá e, quando apareci, Lefty não perdeu tempo em me abordar. “Eu suponho que você esteve praticando o seu pingue-pongue lá em Amarillo”, disse ele.

“Exatamente, Lefty. Eu tenho praticado pingue-pongue o dia inteiro, todo dia, trinta horas por dia”.

“É verdade? Meu amigo estará aqui em dois dias”.

“Bem, eu vou pescar um pouco assim que derrotar esses jogadores de poker. Se ele quiser jogar comigo, deixe-me escolher as raquetes e ele terá o seu jogo”.

“E se ele for um bom jogador?”

“Eu não me importo que ela seja um bom jogador ou um aviador. Se eu puder escolher as raquetes, nós jogaremos”.

“Ah, eu lhe garanto que ele jogará”.

Eu então fui pescar durante dois dias e, quando voltei, camarada, eles não me despontaram com a escolha. Trouxeram o campeão mundial de tênis de mesa de Taiwan, que estava me aguardando excitado como um cachorro em um luau.

“Vamos em frente”, disse Lefty.

“Não”, eu disse, saboreando o momento. “Vamos colocar o nosso dinheiro agora e jogar daqui a trinta dias. Eu preciso praticar um pouco, agora que vi que você arranjou um campeão de pingue-pongue de verdade”.

Embora eu consiga jogar pingue-pongue razoavelmente com uma frigideira, não tenho interesse em negociar, nem em conseguir um placar baixo. Sabe, amigo, quando eu faço uma aposta, ela já está ganha. E se eu vou ganhar, quero me certificar de que vou levar alguém à falência no processo.

Muito embora Lefty e o restante dos espertalhões tivessem malas cheias de dinheiro, eu sabia que, se eu adiasse, iam espalhar que o velho Slim iria receber a sua merecida punição – e Lefty chamaria o restante dos seus amigos ricos para também ganharem dinheiro às minhas custas. Então nós concordamos em adiar a partida em trinta dias – e então jogaríamos por dinheiro para valer. Eu não apenas queria dar a Lefty a oportunidade de avisar a todos os seus parceiros, como também dar àquele campeão ainda mais tempo para praticar com a sua frigideira.

Antes de deixar a cidade, assim como eu tinha feito com Bobby, deixei a aposta clara: nós iríamos jogar pingue-pongue de vinte e um pontos, com cada um usando raquetes deminha escolha.

Cerca de um mês mais tarde, pouco antes da partida, eu recebi um telefonema de um dos meus parceiros dizendo que o campeão estava praticando com a maior frigideira já vista nessa parte do Texas. Isso não era novidade para mim – eu sabia que essa era a intenção deles o tempo todo – mas eu acho que eles subestimaram esse cowboy do interior.

No dia seguinte eu cheguei ao Tennesse, e parecia que a Marinha tinham chegado – onze aviões particulares tinham aterrizado. Todos os apostadores dos Estados Unidos estavam ali para apostar nesse sujeito jogando pingue-pongue contra mim. Certos de que aquele campeão iria me derrotar, os apostadores trouxeram cédulas de cem dólares suficientes para carbonizar trinta jumentos molhados.

Eu apostei o mesmo valor com todos que queriam apostar contra mim e, quando não consegui mais ação, apostei tudo que me restava na proporção de 6 para 5, o que significava que, caso eu perdesse, teria de pagar a esses idiotas $6 por cada $5 apostados contra mim. Agora era hora de jogar, e todos estavam ao meu redor esperando que eu tirasse as frigideiras da mochila. Eles acharam que eu estava apenas adiando, quando me dirigi até uma máquina de refrigerante, coloquei dez centavos e comprei uma garrafa de Coca-Cola. Depois coloquei mais dez centavos e comprei outra. Eu abri ambas as garrafas, caminhei até uma lixeira e derramei o líquido dentro dela.

Lefty e o restante da multidão estavam ficando impacientes, mas eu não disse uma palavra. Eu simplesmente fui até a mesa de pingue-pongue com as garrafas de Coca e disse àquele campeão: “É sua a escolha das raquetes, filho. Qual delas será?”

“Raquetes?”, ele perguntou.

“Sim, essas garrafas de Coca aqui são nossas raquetes. Escolha a sua”.

Bem, aquele rapaz me olhou como quem não conseguia engolir quiabo cozido.

Quando ele segurou uma das garrafas, eu disse: “Eu vou inclusive lhe dar a escolha – você quer começar sacando ou recebendo?”

O campeão encarou Lefty, que tampouco parecia estar muito bem. “Bem, maldição”, Lefty disse, “escolha o saque”.

“Ok”, eu disse, “vamos lá”.

Na primeira rodada de saques dele, ele sequer conseguiu fazer com que a bola ultrapassasse a rede. Nem uma única vez. Portanto, ele estava perdendo por 5 pontos quando me passou a bola. Quando eu saquei – devo dar crédito a esse rapaz, pois ele acertava a bola toda vez, mas ela ia direto para o ar ou parava na rede. Ele não conseguiu contra-atacar nenhuma vez.

Eu prefiro não dizer quanto dinheiro apostei nessa partida, pois isso causou um rigoroso exame de contas quando a notícia se espalhou. Mas é suficiente dizer que ninguém – nem mesmo um campeão mundial – jamais me desafiou a jogar pingue-pongue novamente.

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