Quando fui convidado pelo site Amolatina.com para acompanhar um tour romântico que juntaria usuários americanos e latinas solteiras em Medellín, na Colômbia, eu esperava de tudo – ou quase tudo. Mas aquilo não. Aquilo era demais. A cena: cercados por balões e vários homens e mulheres de meia-idade, três casais dançam ao som de rumba no meio de um salão de festas. Elas, colombianas jovens e elétricas, desesperadas por agradar. Eles, os gringos – um advogado texano de 2 metros de altura, um canadense de 63 anos e movimentos artríticos e um sujeito de Miami na casa dos 40, que sorri e manobra sua cadeira de rodas ao ritmo da companheira. Sob as ordens do animador, cada uma das moças recebe um balão. Vence quem estourá-lo primeiro contra o corpo do parceiro em um abraço vigoroso. O público vai à loucura. É o momento em que a acompanhante do homem na cadeira de rodas decide apertar o balão entre suas próprias costas e a nuca de seu companheiro, que agora gargalha e engasga porque ela, na gana pela vitória, empurra o único terço funcional de seu corpo para fora da cadeira. Ele resiste, suas mãos firmes nas rodas, e, quando tudo está prestes a ruir, inclusive a dignidade humana, ouvese um estouro vindo de outro casal. A tarde foi salva.
Estamos no domingo, o terceiro dia do evento batizado de Romance Tour, e 24 homens com média de idade de 45 anos estão desde sexta-feira espalhados pela área social do Hotel Casa Victoria, tentando entreter ou ser entretidos por mais de 80 mulheres colombianas. Cada um deles pagou 1 687 dólares mais a passagem aérea pela chance de “conhecer garotas ilimitadamente” no saguão do hotel durante quatro dias. Elas, por outro lado, encararam 8 horas de ônibus entre Bogotá e Medellín para concorrer à sorte grande de agarrar um gringo. A maioria dessas mulheres caminha pela meia-idade com muitos quilos a mais, alguns filhos e nenhum diploma universitário.
TRÊS SOLTEIRÕES E UM REPÓRTER
Sexta-feira, 4 de junho, 20 horas. Mal chego ao hotel e já me junto a três integrantes da tour. Eles são criaturas arquetípicas do grupo. Com seu brinco na orelha esquerda e um fraco por camisas floridas, Tony é uma mistura de William H. Macy com Steve Buscemi. Foi contratado pela agência porque mora em Medellín. Bill, o canadense da gincana, mora em Toronto e trabalha com seguros. Foi casado por 20 anos, e seu divórcio supostamente sairia dali a quatro meses. Charles é um negro de 2 metros nascido no Caribe e morador do Brooklin desde a adolescência. Dá aulas particulares de matemática. Nós quatro seguimos para uma lanchonete chamada Hooters. Lá, a conversa gira em torno do que esperar e como agir na viagem. Tony leva 20 minutos para dissuadir o canadense da ideia de se casar imediatamente com uma local e levá-la para casa. Eu já podia antever o verdadeiro drama do evento: gringos de meia-idade prestes a embarcar voluntariamente em uma série de encontros embaraçosos com latinas que nem falam inglês.
O site Amolatina.com funciona como mediador entre usuários americanos e agências colombianas que reúnem as meninas em grandes bancos de dados. As mulheres não ganham nada com o sistema, não podem ver fotos dos homens pelo site e apenas lutam pela possibilidade de fisgar um “gringo”. Os usuários masculinos é que pagam por cada interação com as meninas. Um e-mail sai por 7 dólares. Parte dessa verba é repassada às agências locais. É um sistema que abre espaço para fraudes. Algumas agências locais mantêm um banco de mulheres falso, e sabe-se lá quem fica encarregado de responder às mensagens. Segundo Larry Cervantes, manager-editor da Anastasia International, empresa à qual a Amolatina pertence, o site tenta tirar constantemente esses parasitas do sistema. Alguns usuários já haviam percebido o embuste e nem gastavam mais dinheiro com mensagens. Por isso, preferiam investir nas viagens. É bem mais econômico. Isso fica claro quando Tony “Macy” pergunta ao canadense quanto havia gasto com mensagens e que benefícios elas trouxeram. Envergonhado, o canadense confessa ter recebido “alguma felicidade” ao torrar 3 000 dólares no ano passado.
Na manhã de sábado, pouco antes do social, Larry reúne os homens em uma palestra sobre como se comportar. “Não beba a água!” “Se uma mulher te convidar para ir até a casa dela para conhecer a família, não vá!” “Se o taxista não ligar o taxímetro, não entre!” “Se você achar que a primeira garota que conheceu é a mulher da sua vida, não conte com isso!” Depois de apavorar a todos, Larry escreve na lousa as palavras gracias e por favor e sugere que todos usem as expressões abundantemente, o que eles fazem nas situações mais inadequadas. “Eu sou o Bill, obrigado” era o que diriam ao se apresentar.
O BAILE
O mais difícil é me acostumar com a ideia de que estou com os gringos e. portanto, sou um deles. E, pior, um gringo jovem, magro e, segundo mamãe, atraente. As colombianas devem me olhar e pensar que tenho algum defeito grave na genitália para estar andando com esses caras. Esse fato me ataca especialmente nas horas precedentes ao primeiro social, quando Nina, a organizadora russa, bonita e sádica, me adorna o pulso com uma pulseira fluorescente que diz “AMOLATINA 2010”.
Finalmente as mulheres chegam. As médias de idade e de tecido adiposo no lobby aumentam consideravelmente. Em sua maior parte são corpulentas e estão intensamente maquiadas para disfarçar as marcas de seus 40, 50 anos. Poucas têm dentições admiráveis. E, depois da longa viagem, elas estão amassadas, cansadas e ansiosas. Admito, porém, que há algumas joias no meio daquela eau de toilette e sabão de coco. Elas serão as primeiras a ir embora.
Charles me interpela. Pergunta se eu tenho alguma dica para pegar colombianas. Meu cérebro repete “Dinheiro, dinheiro, dinheiro”, mas consigo sugerir que ele dance. Ele adora a ideia. Estremeço. Eu serei a causa de sua ruína. Ali está aquele homem enorme que, na noite anterior, em 1 hora, bebeu duas margaritas, um tequila sunrise e, ato contínuo, devorou sozinho uma porção de onion rings. Se ele dançar, coisas ruins sucederão. Eu não poderia estar mais enganado. Na pista vazia, o Professor provoca um fascínio que só acidentes automobilísticos e ônibus espaciais são capazes de despertar. Em seus braços, as latinas demonstram sentir, aninhadas naquela compleição de ursos, um conforto que jamais encontrariam no rebolado travado dos outros. Elas se entregam ao calor caribenho do Professor com os olhos fechados, em êxtase. Mas ele é exceção.
Passa 1 hora, e o cenário permanece o mesmo: muitos dos homens encolhem-se contra as paredes como meninos de 5a série no baile escolar. As mulheres começam a bufar de impaciência. Tony “Macy” parece um capitão de navio em chamas. Ele corre até mim, agarra meu ombro e grita: “Você precisa nos ajudar! Estamos com poucos homens, e as mulheres estão ficando irritadas! Precisamos da sua ajuda! Vamos lá, fale com elas, tire-as para dançar, faça alguma coisa!” Então eu as entrevisto.
Contadas pelas mulheres, suas motivações são as mais puras. Querem conhecer homens diferentes, carinhosos e carentes para fugir de homens colombianos que batem, xingam e traem. Dinheiro? Elas juram que nem pensam nisso.
CERIMÔNIA DO ADEUS
A noite cai, e o encontro segue em marcha lenta. Um terço das mulheres desaparece para nunca mais voltar. Alguns dos gringos saem em encontros solo, mas não demoram a retornar sozinhos ao lobby. Eles se preparam para sair em grupo. Seguindo recomendações de porteiros, recepcionistas, taxistas e outros funcionários interessados no bem-estar do turista americano, tocamos para um lugar chamado Mango’s. Um bar enorme e atulhado de objetos de temática country: cabeças de búfalo, pistolas, cartazes de procurados, selas de cavalos, cavalos inteiros empalhados etc. Enquanto os americanos criam raízes nas mesinhas de madeira, uma repórter de TV de Miami, peruana crescida na China, dança para aliviar as tensões de um dia de trabalho cobrindo o evento. Seria a única a se mexer no salão deserto não fossem as dançarinas e os dançarinos que rebolavam de collants sobre o balcão. Foi ali, entre drinks e o compasso da música latina, que tive minha epifania: tudo precisava se tornar um circo para agradar aos americanos.
Na tarde de domingo, confirmei a tese. “É deprimente. É como um show”, desabafa Kevin, um discreto (e agora frustrado) australiano. Ele está desolado. De todos os homens do grupo, apenas dois tinham se dado bem. Um deles era o cara que todos chamavam de “El Gordo” pelas costas, que já havia combinado tudo previamente com uma colombiana com a metade de seu tamanho e logo no primeiro dia hospedou-a no quarto dele. Passavam as manhãs como um casal de muitos anos, comendo omeletes em silêncio com os olhos no vazio. O outro era um jovem negro, alto, atraente e com carreira sólida em um serviço social de auxílio a criancinhas do governo federal americano. Ele também entrara no tour apenas para consolidar uma relação duradoura com uma modelo incrível. Não estava mais entre nós. Ao fim do primeiro social, ele preparara uma mala e partira para a casa dela. Não voltou a tempo de receber meus cumprimentos.
MISS CORAÇÕES SOLITÁRIOS
O Amolatina.com é um dos sites controlados pela empresa russa Anastasia International, que nasceu em 1993 de uma parceria entre uma russa e um americano que se conheceram e se casaram por meio de um serviço semelhante ao que oferecem hoje. Entre os sites de relacionamento “étnico” da empresa, o ponta de lança, AnastasiaDate.com, oferece tours e assessoria para obtenção de vistos e para aluguel de apartamentos em cidades russas. Há dois sites mais recentes que oferecem o sistema de comunicação (cobrado por mensagem enviada), mas não organizam os tours românticos ainda. Seus nomes são autoexplicativos: africabeauties.com e asianbeauties.com. Mas não pense que a Anastasia está sozinha no mercado: ela é apenas umas das centenas de empresas que realizam arranjos românticos internacionais. A diferença é que os sites do Anastásia estão entre os mais bem cotados segundo o internationallovescouts.com, que ranqueia serviços online de relacionamento.
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