Ex-socialite e ex-funkeira, Heloisa Faissol vai lançar um livro “denunciando” a alta sociedade carioca (no qual aproveita para explicar sua obsessão quase fatal por Chico Buarque)

Chico Buarque, todos nós sabemos, é um homem desejado pelas mulheres. Ok, apenas pelas normais. Durante dois anos, uma delas levou esse desejo às raias da insanidade, assediando-o dia e noite. Começou de maneira sutil – meia dúzia de telefonemas diários e um fax de 14 metros com a frase “eu te amo” repetida – até chegar a um ponto um pouco mais preocupante: uma sequência de pulos histéricos no capô de seu Honda. O fim não foi trágico: o compositor tascou dois beijos na Geni e a mandou para a terapia. Na verdade, estava tudo em família. Heloisa Faissol, a perseguidora, é irmã de Claudia Faissol, namorada de João Gilberto, que já foi casado com Miúcha, que vem ser a irmã do cantor. Sim, Heloisa é a mesma que, anos atrás, se vestiu de cachorra do funk e saiu por aí cantando versos como: “Tô fervendo, tô no ponto / Eu dou no primeiro encontro”. Virou Helô Quebra-Mansão. Recentemente, esteve à sombra da irmã mais nova, Claudia, que andou saindo nos jornais após o fracasso em promover uma turnê com João, que se recusa a voltar aos palcos. Enquanto Claudia recolhe-se, Helô está pronta para voltar às manchetes. Desta vez, como autora de um livro chamado O Luxo é um Lixo.

Se você é daqueles que se divertem com o reality show Mulheres Ricas, espere para ler as confissões da ex-funkeira (se você não gosta daquilo, também vai achar graça no patético). Na autobiografia, além de contar os detalhes da aventura buarqueana, ela resolveu eleger como alvo a alta sociedade carioca, a começar pela direção da tradicional Sociedade Hípica Brasileira, frequentada por ela durante a infância e parte da adolescência. Com 12 anos, escreve, era obrigada pelos treinadores – cujo nome ela não revela – a lavar o pênis dos cavalos. Após as aulas de equitação, era convocada a assistir filmes sobre hipismo – mas bastava entrar na sala para o tema da “preleção” mudar radicalmente. Ela escreve: “Eles davam um jeito das outras alunas saírem do quarto depois de um tempo, com a desculpa de tarefas para cumprir. Quando estávamos sós, o chefe da professora colocava filmes de sacanagem, daqueles bem brabos. Não sei se o leitor será capaz de imaginar como ficava minha cabeça, que até então só tinha assistido desenhos da Disney e brincado de namorar com Barbies e Kens”.

Segundo ela, após essa experiência traumática, tudo desandou. Envolveu-se com drogas e não conseguia namorar. “Eu fiz análise a vida inteira e até hoje sou um pouco medrosa”, me disse em seu apartamento em Copacabana. “Dar no primeiro encontro é só para a minha personagem funkeira.” Ao longo do tempo, foi se distanciando de qualquer coisa que remetesse ao universo dos ricos com quem foi criada. “É um mundo podre, promíscuo, muito distante do apresentado em novelas ou nesse reality show”, diz Helô. Olympio Faissol queria que os seus cinco filhos (quatro mulheres e um homem) seguissem sua profissão. Trabalho não faltaria. Discípulo de Peter K. Thomas, considerado o papa da odontologia nos Estados Unidos, Olympio foi o dentista mais bem-sucedido do Brasil. Cuidou de gente como Marylin Monroe, Frank Sinatra e de grande parte dos famosos e poderosos nacionais, como Roberto Marinho, Leonel Brizola, Tom Jobim, João Gilberto e Fernando Collor de Melo. Tem uma casa de sonho num dos trechos mais badalados da baía de Angra dos Reis, batizado em sua homenagem: a Praia do Dentista. Apenas uma das crias, Martha, seguiu sua carreira – atende no consultório dele, que continua na ativa aos 79 anos, em Botafogo. Depois de estudar num colégio interno na Suíça, como as meninas endinheiradas de sua geração, Helô fez cursos de teatro, dança e circo.

Ela lembra que a parte interessante da profissão do pai era poder conviver de perto com sua clientela. “O Tom vivia pedindo para papai ser mais liberal com a gente. Dizia: ‘Ô, Olympio, deixa as meninas saírem! Não seja tão careta!’.” Já Brizola, ex-governador do Rio, ajudou a politizar a menina burguesa. “Ele me ensinou valores que eu guardo comigo até hoje.” Helô, atualmente, é filiada ao PDT, o partido fundado pelo político gaúcho. Pretende sair candidata a vereadora nas próximas eleições. “Eu tenho um sonho de viabilizar um projeto cultural que ajude a tirar as crianças da rua”, avisa. Enquanto não monta sua plataforma eleitoral, ela se dedica exclusivamente à sua obra literária. Está à procura de uma editora. Tem certeza de que o livro se tornará um best seller, não só pelo conteúdo bombástico, mas pelas histórias divertidas envolvendo personagens ilustres da música popular brasileira. Se conseguir, de fato, emplacar como escritora, vai aposentar definitivamente a persona Helô Quebra-Mansão e se tornar apresentadora de televisão. Já tem até um piloto gravado. Precisa apenas mudar o título, que não agradou muito os patrocinadores: Baseado.

Se a autobiografia venderá, é impossível prever, mas as páginas dedicadas à sua atração quase fatal por Chico Buarque valerão, no mínimo, algumas risadas. “A Bebel Gilberto (filha de João e Miúcha) não queria me passar o telefone do Chico. Aí resolvi ligar para o João. Falei que estava trabalhando como fotógrafa e que precisava do número. Ele me deu na hora”, declara. Não demorou para ela evoluir da admiração para a marcação cerrada. “Um dia, ele saiu do campo de futebol e me viu pulando no capô do carro dele”, recorda, rindo muito. “Eu disse que só iria descer se ele me desse um beijo.” (Leia trechos do livro na página 122.) O psicanalista explicou que Chico representava a figura do homem ideal, um pai livre de imperfeições, bonito, educado, inteligente, bom de samba, de bola, politizado… Hoje, sem esperança de tudo se ajeitar, Helô sabe que o cantor passou e amanhã vai ser outro dia. A moça tá diferente. Chegou o momento em que ela vai cobrar com juros todo esse amor reprimido, esse grito contido, esse samba no escuro. E não adianta jogar pedra!

Fantasiada de Helô Quebra-Mansão (1); Helô (de camiseta azul) com o pai, Olympio Faissol, irmãs e amigas na casa de praia em Angra dos Reis (2); na Hípica, onde ela diz que foi desencaminhada (3); obra em homenagem a seu muso e obsessão (4); com o cunhado, o cantor João Gilberto (5)