Sempre tem alguém que super me considera e adora e abre portas e traz sopa pra gripe e lembra de datas importantes e acaricia minhas costas no quentinho de uma tarde chuvosa e discute as melhores frases do Billy Wilder. Sou grata, muito grata, por ter nascido razoavelmente bonitinha e interessante e nunca ter ficado mais do que uma semana sem ter um bom rapaz que gostasse minimamente de mim. Alguns duram anos, outros semanas, e quase sempre me fazem bem de um modo geral e sem grandes emoções.
Mas vez ou outra, no meio desses todos, aparece aquele cara. Aquele que uma mulher jamais esquece e que, infelizmente, a torna para sempre mais exigente e nostálgica. Depois dele, os outros são os outros e só. E antes dele também.
Lembro vagamente de uma conversa interessante, mas sei que ela foi encurtada por uma urgência mútua que nos fez consumidores ávidos de nós mesmos. Algumas pessoas são como bifes suculentos numa vitrine acenando para um retirante que está lutando por algum alimento há semanas. Não dá tempo de cortar a carne. A enfiamos sem dó, inteira, pela boca trêmula, para só depois passar meses digerindo.
Não sou exatamente um ser sedento por contatos de pele. Como eu disse anteriormente, eu sempre tenho alguém. Mas veja bem: estou narrando aqui “o contato”. Aquele cara que, depois de uma dúzia de moços mais ou menos, nos faz ver fogos celestes no céu de um planeta neon. Nos faz tocar raios estelares de uma galáxia dourada. Nos faz dançar com astros pirotécnicos de um universo mágico. Nos faz concluir que ser intelectualizado, sensível e ter caráter são características secundárias ou, quiçá, mais obsoletas que o apêndice.
Acompanhem comigo. Este rapaz estava havia mais de 40 horas sem dormir, pois tinha emendado uma noitada na outra. Esse rapaz estava completamente alcoolizado na festa em que veio falar comigo. Este rapaz, além de alcoolizado, tinha fumado cigarrinho que passarinho não fuma. Este rapaz passou dos 40 anos de idade. Enfim, a chance de ele broxar com esse somatório de fatos era maior do que a de um ministro desviar verbas ou a de uma modelo não ter lido Dostoievski. Ainda assim, ele performou como poucos ou raros (ou nenhum) performaram até essa data memorável de março de 2012.
Ao final de nosso longo périplo sexual, o qual abarcou todas as partes em todos os cantos de todos os cômodos em todas as posições, ele me pediu um copo d’água… não sem sentir um tantinho de vergonha por ser humano. Que homem.
Na manhã seguinte, com a pele do rosto rejuvenescida por um peeling natural (ele tinha barba), acordei assoviando e, sem medo do ridículo, olhei pra ele e falei: eu te amo. Antes de ele sumir para sempre abduzido pelo buraco do meu elevador, gritei novamente que o amava.
Nem sei qual é sua voz, de que bandas ele gosta, quais seus escritores preferidos e em que circunstâncias ele segura firme na mão de alguém e passeia pelo mundo. Mas sei que para sempre eu o amarei com profundidade, sinceridade e eternidade.
Não é a poesia, não são as canções, não são os castelos, não é a arte. Não são as promessas, o comprometimento, o casamento ou uma joia caríssima. Um pau realmente duro por horas ininterruptas é que é o melhor, mais lindo e mais sincero elogio que um homem pode fazer a uma mulher.
Matéria publicada na Revista ALFA
Nenhum comentário:
Postar um comentário